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sábado, 28 de fevereiro de 2009

EU SÓ ANDO A PÉ

............................................................................................ foto: Sebastião Salgado

EU SÓ ANDO A PÉ

Eu só ando a pé, eu só ando a pé seu doutor.
Eu só ando a pé, eu só ando a pé sim senhor.
Mas pro mesmo lugar que o doutor vai eu vou,

pro mesmo lugar eu vou.

O bom Deus criador desse lugar, não fez muro, divisa nem fronteira
É do homem a mão dessa besteira que oprime, humilha e faz chorar.
Fez da vida um jogo de azar,
arriscando entre o nada e a riqueza,
de um pedaço de pão à farta mesa,
de comer cabelouro ou bacalhau,
de andar de santana ou de rural,
de nascer pra leão ou para presa.

Eu só ando a pé, eu só ando a pé seu doutor.
Eu só ando a pé, eu só ando a pé seu doutor.
Mas pro mesmo lugar que o doutor vai eu vou,
pro mesmo lugar eu vou!

Se é de carro importado ou guarda-chuva,
não precisa de pressa pra chegar,
se a camisa é de chita ou tafetá,
se tem mão para enxada ou para luva,
se roer macaíba ou chupar uva,
se comer tanajura ou caviar,
se é inquilino ou dono do lugar,
se usar adoçante ou rapadura,
Está na terra o fim da criatura,

ou na cinza que o vento vai levar.


Claudio Noah

QUEIMADO


Queimado

A cigana, lendo carteado,
Me disse sua hora chegou,
Abriu o meu corpo fechado,
E meu coração calibrou.

Me deu um cordão encantado,
Para os labirintos do amor,
Fui longe e parei assustado,
Ao ver que o cordão se quebrou

Fiz reza ascendendo fogueira
Pra alumiar meu caminho
E o vento do amor, na soleira
Fez cinza das brasas do pinho

Se eu quis buscar mais ciência
Pros becos do amor conhecer
Foi gemendo na dor de uma ausência
Que eu consegui entender

Que o amor é um fio descascado
Na ponta das línguas no cio
Por isso que mesmo queimado
Eu sigo lambendo esse fio.

Claudio Noah
Recife, 26 de março de 2004

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O AMOR


O amor
Amo-te tanto que nem preciso de você no te amar.
Amor sem fôrma ou forma.
Amor nos guardanapos que trago para casa,
nos meus bolsos pelos fins de noite.
Amor na minha mão me amando só.
Amor na hortelã do creme dental toda manhã.
Amor na catraca dos coletivos, quando passo.
Amor derramado nos copos.
Amor colado nas paredes lá de casa.
Amor refletido no sol dentro dos dias.
Amo-te tanto que nem preciso de você no te amar.
Amor nas latas de lixo.
Amor nos muros que picho sem pichar.
Amor nos olhos dos outros que nunca te viram.
E eu te mirando.
Amo-te tanto que tenho medo da tua presença.
Como seria você no tudo?
Quem seria eu?
Qual fronteira traçar entro nós?
Meu grande amor, amar é nó ou laço?
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Cláudio Noah
Outubro de 2007