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sábado, 29 de março de 2008

ÀGUAS DE MANAÍRA DOIS

Águas de Manaíra dois

Ele compra um sorvete para ela que chupa o sorvete como se fosse ele diante da praia exposta ao vento que lhe descabela a alma e o sorvete que não gela o pulsar dela por dentro da noite de Manaíra tão pequena a mão do toque dele nos seus seios expostos pro vento de Manaíra das têtas duras e vagina molhada de espera nas muitas águas de Manaíra.
Águas que só ele sabe.

Cláudio Noah
27 de março de 2008

LUGARES

Lugares

Na Sibéria,
em Otawa,
em Ouricuri,
tem sempre alguém amando alguém.

Sentindo seu cheiro de primavera ainda que seja inverno.
Nos calçadões de Ipanema,
sob os olhos de poetas que já lá não estão,
tem sempre alguém amando alguém.

Dentro de um coletivo ou da última Ferrari,
tem sempre alguém amando alguém.
O amor é o motor deste mundo e das suas gerações
pois os tempos passam,
e sempre teremos alguém amando alguémassim como te amo.

Cláudio Noah
27 de março de 2008

quinta-feira, 27 de março de 2008

DOLOR

Dolor

Dolor não é dor não.
Dolor é tempo perdido por entre os dias.
Dolor é a lembrança de filhos que não foram filhos.
Dolor é a lembrança de orgasmos calados, pra não acordar os do lado.
Dolor é carnecansada sem perfume ou vaidade,
Dolor não se curva pois, curvatura e sobrevivência não combinam.
Dolor é loucura lúcida.
Há um acordo íntimo por dentro dela e ninguem o sabe.
O acordo é acompanhar um filho até o limite, mesmo que o tal limite seja a bala!
Dolor são Marias, todas elas!
Um arquétipo vaginal que amamenta.
Dolor é a negação do prazer com todas as suas consequências.
Dolor são Suzys, Cristinas, Miras e tantas outras sob a pressão de uma realidade não desejada.
Dolor não menstrua mais.
Dolor não sabe onde vai.
Dolor é apenas Dolor.

Claudio Noah
26 de março de 2008

quarta-feira, 26 de março de 2008

CANA MARIA

Cana Maria

Vejo o bailado das canas
por sobre os canaviais.
Vejo as Marias das canas por dentro delas.
Sinto o cheiro das canas queimando
por entre as brasas das tais Marias
de nome verde.
O ocre cheiro na vagina dela,
pensando seus filhos das canas,
temperados com melaço.
Por dentro das festas de fim Março
Um cheiro de fim de safra
Cana Maria.
Canas por séculos!
Pisando o adubo,
cotôcos de alegria,
na tera sem nada.

Cláudio Noah
25 de março de 2008

MULHER DOS OLHOS D'GUA


Mulher dos olhos d'água

Ela mal acabou de sair e já parece dias. Ainda sinto as partículas da sua presença em minha volta. Pela casa, o seu vulto, como que por teimosia, ainda insiste em se mover pelos cômodos, aonde curiosamente permaneço só. Só que este só já não é mais o mesmo. Dentro do só de agora já não sinto-me triste como nos outros antes deste. Creio que o só dela também já não é mais o mesmo. O amor parece ter muito poder sobre o tal do só. Bate-me agora uma certeza calma da indivisibilidade do átomo que somos. E isto, mesmo apesar de toda a exatidão da Física Atômica, como que exposta agora, inutilmente, nos livros que imagino ao chão e aos quais piso com pés de homem amado.
Mas, o que dizer sobre as partidas? O amor parece também ter muito poder sobre as tais das partidas. Sinto a sua falta e não há mais desespero nesta.
A falta do desespero é uma falta dentro da outra. A dela. Ponho-me a escrever como que por necessidade em poder ler e reler o que já sei sentindo. Escrever sobre o que se sabe sentir é como aguar rosas por dentro. É como tear palavras, trança-las com sentimentos para então, depois, expô-las aos olhos do mundo.
O amor parece também ter muito poder sobre a tal da distância.
A dela de mim é limitada pelo tempo. Sendo assim, não há distância, há tempos. Há o tempo com ela. Há o tempo de mim sem ela. No tempo do agora sem ela debruço-me sobre folhas de papel para pensar por letras sobre a sua presença. Mando-lhe, por esta escrita, os meus mais doces sentimentos. Que vão, então, até a orla das suas vestes , para dali, pararem diante dela e dizerem -Ele é teu! Hoje, sei estar completamente grávido dos seus olhos. Suas lembranças, como água fresca em minhas entranhas, refrigeram-me a alma e a carne. Se escrevo sobre isto, é apenas para que ela leia o que já sente sabendo. Ler que a levo por dentro de mim. Discordo de Vinicius. Isto não me é angustiante. Talvez dentre todas as mulheres que ele conheceu não houvesse nenhuma mulher dos olhos d'água.

Cláudio Noah
23 de março de 2008

terça-feira, 18 de março de 2008

MIRAGEM

............................................................................. ( The Kiss - Klint 1907 )


Miragem

Ontem me peguei pensando de novo em você, por ai,
de novo em nós dois, sem por vir, amanhã.
Hoje me peguei de novo pensando em você colibri,
que pensava uma flor num jardim muito longe.

Longe da rede na sala,
longe dos versos que fiz.
tão longe que eu nem enxergava,
um alguém muito longe sim.
Você é muito longe, fim.

Claudio Noah
14 de Março 2008

segunda-feira, 17 de março de 2008

PRECE AOS SELENITAS


PRECE AOS SELENITAS

Vem, mas vem ligeiro
que é melhor sair da rua,
quase nua,
quase em bruma
quase vento sem ventar,
que a noite é d'água
e não tem hora de passar.

Vem, mas vem depressa
que é melhor fugir da lua
branca e crua,
quase pluma,
nesse brilho em teu olhar
de àgua raza te dizendo pra voltar.

Vem e chegue arfante
que é melhor que estar parada
em qualquer mesa
em qualquer prosa
em qualquer bar.


Vem, mas vem agora
que é melhor não ficar fora
dessa boca que te adora
e sempre treme
e sempre cora
só em ver você chegar.

Claudio Noah
13 de março de 2008

sexta-feira, 7 de março de 2008

SOBRE PAIS E BALÕES

SOBRE PAIS E BALÕES
Eu, quando bem pequeno, eu só queria um dia ter um balão,
Pra conhecer os lugares que eu sabia haver além do portão,
Eu quando bem pequeno, só queria um dia ser o meu pai,
Pra ver o mundo como ele via, sem não ter medo jamais,
De escuro ou de lagartixa e nem de bicho-papão,
De ser o mais valente da família.
Por onde anda meu pai?
Que fim levou meu balão?
Mas pra que me perguntar, se hoje tenho um filho que também vai querer voar?

Claudio Noah