claudionoah@hotmail.com (81) 9733-0060 (Tim) (81) 8761-5100 (Oi)

quarta-feira, 26 de março de 2008

MULHER DOS OLHOS D'GUA


Mulher dos olhos d'água

Ela mal acabou de sair e já parece dias. Ainda sinto as partículas da sua presença em minha volta. Pela casa, o seu vulto, como que por teimosia, ainda insiste em se mover pelos cômodos, aonde curiosamente permaneço só. Só que este só já não é mais o mesmo. Dentro do só de agora já não sinto-me triste como nos outros antes deste. Creio que o só dela também já não é mais o mesmo. O amor parece ter muito poder sobre o tal do só. Bate-me agora uma certeza calma da indivisibilidade do átomo que somos. E isto, mesmo apesar de toda a exatidão da Física Atômica, como que exposta agora, inutilmente, nos livros que imagino ao chão e aos quais piso com pés de homem amado.
Mas, o que dizer sobre as partidas? O amor parece também ter muito poder sobre as tais das partidas. Sinto a sua falta e não há mais desespero nesta.
A falta do desespero é uma falta dentro da outra. A dela. Ponho-me a escrever como que por necessidade em poder ler e reler o que já sei sentindo. Escrever sobre o que se sabe sentir é como aguar rosas por dentro. É como tear palavras, trança-las com sentimentos para então, depois, expô-las aos olhos do mundo.
O amor parece também ter muito poder sobre a tal da distância.
A dela de mim é limitada pelo tempo. Sendo assim, não há distância, há tempos. Há o tempo com ela. Há o tempo de mim sem ela. No tempo do agora sem ela debruço-me sobre folhas de papel para pensar por letras sobre a sua presença. Mando-lhe, por esta escrita, os meus mais doces sentimentos. Que vão, então, até a orla das suas vestes , para dali, pararem diante dela e dizerem -Ele é teu! Hoje, sei estar completamente grávido dos seus olhos. Suas lembranças, como água fresca em minhas entranhas, refrigeram-me a alma e a carne. Se escrevo sobre isto, é apenas para que ela leia o que já sente sabendo. Ler que a levo por dentro de mim. Discordo de Vinicius. Isto não me é angustiante. Talvez dentre todas as mulheres que ele conheceu não houvesse nenhuma mulher dos olhos d'água.

Cláudio Noah
23 de março de 2008

Nenhum comentário: