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segunda-feira, 12 de maio de 2008

ABRACADABRA


Abracadabra

Nos curtos versos que faço
concreto a palavra-dura
no canto da criatura
areia, cimento e traço.
Ao olho que se esbugalha
na fúria deste lamento,
oferto neste momento
o corte de uma navalha!

Sou papagaio arretado,
Não tenho papa na língua,
Não trago cisto nem íngua,
Nem posso ficar calado.
Pra cantilena enfadonha
que chega lá do planalto,
é fácil tapar asfalto,
difícil é tapar vergonha!

Abracadabra, abra a cabeça,
Open your mind, my friend.

Doutores e seus anéis,
senhores de bolsos fartos,
gemendo nus pelos quartos
de insuspeitáveis bordéis.
Na sordidez de um orgasmo
comprado com vil metal,
baba como animal,
no derradeiro espasmo.

Fantoches dos coronéis,
nas sombras dos gabinetes,
seguem cantando em falcete
no ouvido dos seus fiéis.
Enquanto isto nas ruas,
andando tais quais zumbis,
o povo lembra infeliz
quinhentos anos de luas.


Abracadabra, abra a cabeça,
Open your mind, my friend.

Sei que serei condenado,
mas vou seguir maldizendo
aquele que está fazendo
farra com meu trocado.
Portanto não se esqueça
desta mortal criatura,
usando a palavra-dura
pra te abrir a cabeça.

Claudio Noah

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